Em meio a todo o turbilhão trazido pela pandemia, pode ser que você não tenha ainda percebido uma grande transformação que está acontecendo no setor financeiro. Trata-se do Open Banking, que, como o nome diz, cria um sistema bancário aberto, em que as informações fluem mais livremente e empoderam os consumidores.
A chegada do Open Banking tem como pano de fundo o entendimento de que os dados sobre uma pessoa pertencem a ela, e não à instituição que utiliza essas informações. Esse é o conceito chave da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD): quando ela define que o usuário é o titular dos dados, ela coloca o consumidor como o dono das informações. E, com isso, o usuário passa a ter o poder de decidir o que será feito com seus dados.
Vamos levar agora esse mesmo conceito para o setor financeiro. Até agora, o histórico de crédito que você construiu com um banco (contas pagas, salários, prestações, empréstimos, todo tipo de movimentação financeira) alimentava o banco de dados do próprio banco, que podia, com isso, construir um relacionamento (não que necessariamente fizesse, mas essa é outra discussão!). Isso também significa que, até agora, ao abrir uma conta em outro banco, ou solicitar um financiamento em uma instituição financeira, seu relacionamento começava do zero. E com taxas mais altas.
Com o Open Banking, o cliente que quiser iniciar um relacionamento com outra instituição financeira pode transportar seu histórico de dados com o banco atual. Assim, a conversa com o novo banco já parte de um histórico existente.
E o que o varejo tem a ver com isso?
Para o varejo, o Open Banking tem um impacto imenso, tanto nas operações de retaguarda quanto no relacionamento com o cliente. Varejistas que estiverem atentos e aproveitarem as oportunidades trazidas pelas mudanças no setor financeiro podem se tornar mais competitivos, melhorar o relacionamento com os consumidores, aumentar suas vendas e resultados.
Nas operações de retaguarda, o Open Banking vai proporcionar aos varejistas os recursos necessários para melhorar a eficiência de suas operações de crédito:
· Como o sistema facilita a migração de contas para outras instituições financeiras, o varejo poderá negociar condições comerciais mais eficientes. Seja conseguindo descontos com o atual banco, ou migrando para outro que ofereça uma condição melhor, o resultado é o mesmo: redução de custos nas atividades financeiras.
· As operações de recebíveis do varejo se tornarão ainda mais valiosas, já que o comércio poderá negociar esses créditos em condições mais vantajosas com mais instituições financeiras. Como consequência, as empresas aumentarão seu capital de giro, ganhando competitividade.
· Como o histórico de relacionamento com a instituição financeira poderá ser transportado para outras instituições, o varejista terá informações completas sobre sua capacidade de pagamento e necessidade de captar recursos. Essa transparência é uma informação muito importante para o aumento da governança, especialmente quando a empresa se submete a um processo de abertura de capital.
· Com o aumento da concorrência pela prestação de serviços financeiros, surgirão instituições financeiras especializadas em determinadas modalidades de crédito. Dessa forma, haverá mais flexibilidade para realizar algumas transações com um banco, outras com outro, a partir das melhores condições oferecidas.
Olhando dessa maneira, podemos então concluir que o Open Banking é uma novidade que se restringe ao departamento financeiro da empresa? Não mesmo!
Um sistema financeiro mais aberto traz uma série de benefícios para as estratégias comerciais e para o relacionamento da empresa com fornecedores, parceiros e clientes:
· Os dados de crédito poderão ser compartilhados com instituições financeiras para melhorar o score da empresa junto aos fornecedores, o que viabiliza prazos de pagamento mais elásticos e melhores condições comerciais. Com isso, o varejo aumenta sua capacidade de geração de caixa.
· Da mesma forma, o varejo, especialmente quando possui uma instituição financeira (e boa parte do setor atua dessa forma), pode utilizar o histórico de dados dos parceiros para oferecer melhores condições de crédito para clientes B2B, por exemplo.
· O Open Banking permite que as redes varejistas criem condições mais favoráveis de pagamento para os clientes com melhor histórico de pagamento. Em um futuro que não está distante, será possível parcelar as compras da Dona Maria em seis vezes e entender que, para o Senhor Joaquim, essa mesma condição tem um risco alto demais.
· Uma consequência dessa capacidade de customizar o crédito para os clientes é reduzir o volume financeiro necessário para prover perdas, o que tem um impacto direto no balanço da empresa.
· Em um mundo de superapps e moedas digitais, o Open Banking amplia as possibilidades para que o varejo use de modo inteligente o histórico de crédito dos clientes para oferecer soluções personalizadas e promoções especiais.
· Com o Open Banking, um varejista que identificar que o cliente fez um financiamento imobiliário em uma instituição financeira pode, por exemplo, mostrar mais itens de eletroeletrônicos e móveis para ele. As ações de promoção e marketing passam a ser muito mais assertivas, compreendendo a fundo o cliente, seu momento de compras e sua capacidade de consumo.
Como consequência de tudo isso, o varejo poderá desenvolver relacionamentos mais profundos, duradouros e personalizados com seus clientes. E isso se reflete na oferta de crédito, nas condições promocionais, na conexão de serviços e no estímulo à recorrência dos clientes.
O Open Banking traz um potencial enorme de ganhos para o varejo, mas para aproveitar ao máximo essas possibilidades, as empresas precisam estar preparadas. As vantagens competitivas são maiores para quem atua como um ecossistema, com uso intensivo de dados e uma cultura corporativa baseada na análise de informações e focada em aprofundar cada vez mais o relacionamento com os clientes.
A primeira fase dessa revolução no sistema financeiro brasileiro já começou e a hora para embarcar é agora. Prepare-se e aproveite a oportunidade!
Sobre a autora:
Monica Reis
https://www.linkedin.com/in/monicadiasreis/
Mais de 20 anos de experiência em produtos financeiros, meios de pagamento e gestão da inovação. Nos últimos anos, teve atuação em diversos projetos de carteiras digitais e open innovation/banking.
MBA em Marketing (FGV), Especialização em Marketing Digital (ESPM) e Gestão da Inovação (Pieracciani).
Atualmente como Head de Produtos Digitais da Linx Pay, já teve em sua trajetória profissional, atuação em diversos projetos de transformação digital para o mercado financeiro, com passagens em empresas como Oracle, Banco Safra, Getnet e Cielo.
No responses yet