Brasil Sem Open Finance: O que estaríamos perdendo?

Brasil Sem Open Finance: O Que Estaríamos Perdendo?
open finance brasil

Em 28 de agosto de 2025, o Brasil celebrou 5(cinco) anos do Open Finance, e para celebrar seu aniversário, o Banco Central do Brasil promoveu um evento para apresentar os avanços conquistados, casos de uso, soluções, próximas implementações e visão de futuro. O evento teve transmissão ao vivo pelo canal do BC no YouTube.

O Open Finance é uma iniciativa que revolucionou o setor financeiro, fortaleceu a concorrência, empoderou o consumidor e acelerou a transformação digital no país. Nesses 5 (cinco) anos, o Open Finance consolidou o Brasil como referência internacional, promovendo acesso ampliado a produtos financeiros inovadores, redução de custos de crédito, personalização de ofertas e democratização dos serviços financeiros – mudanças que impactaram diretamente, e de forma positiva, a vida de milhões de brasileiros.

Impacto do Open Finance no Brasil

E para mostrar o tamanho dessa impacto, apresento alguns números que comprovam nossa posição de liderança mundial e a importância do Open Finance para o Brasil:

  • Contas Conectadas: Mais de 65 milhões de contas conectadas ao Open Finance em 2025, com movimentação de aproximadamente R$ 1,2 bilhão por mês em pagamentos – números que nenhum outro país atingiu nesse ritmo e escala.
  • Volume de consentimentos: Cerca de 100 (cem) milhões de consentimentos ativos, que incluem autorizações para uso e compartilhamento de dados financeiros.
  • Interações com o sistema: O Open Finance brasileiro registra mais de 3,5 bilhões de comunicações (ou seja, de chamadas de APIs) bem-sucedidas semanalmente entre instituições, consolidando-se como o maior mercado global em volume de dados;
  • Crescimento acelerado: O Brasil alcançou marcas que países pioneiros, como o Reino Unido, levaram muito mais tempo para atingir. Por exemplo, superou a marca de 5 (cinco) milhões de contas conectadas em apenas um quinto do tempo do Reino Unido.
  • Referência internacional: Reconhecimento em relatórios como o Global Open Finance Index (Open Banking Excellence/Universidade de Oxford) que destaca o Brasil como referência mundial, tanto em adesão, quanto em inovação e robustez tecnológica.

Agora, imagine como seria o Brasil se o Open Finance não tivesse sido implementado.

Como seria o país, o ecossistema financeiro e a relação dos brasileiros com o dinheiro nesse “mundo paralelo”?

Começo com um tema importante: maturidade do mercado alcançada com o Open Finance. No Brasil, o Open Finance já alcançou um estágio avançado, conforme aponta o relatório do Índice de Maturidade do Open Finance Brasil de 2024, elaborado pela Capgemini. O levantamento revela que o setor atingiu um índice de maturidade de 77%, impulsionando a rentabilidade média das instituições de 27% para 32%, além de contar com o engajamento de mais de 65% das empresas do setor financeiro em atividades relacionadas ao ecossistema Open Finance.

Esses resultados comprovam a existência de um ambiente dinâmico e de rápido crescimento em apenas cinco anos, e, ainda mais importante, mostram como o Open Finance foi decisivo para consolidar um ecossistema vibrante e inovador, impossível de ser alcançado sem essa estrutura.

E que tal analisarmos mais de perto alguns cenários específicos desse nosso “universo paralelo”?

1. Redução de tarifas e juros, e acesso a crédito
Com o Open Finance o acesso a crédito também se democratizou. Pesquisas revelam que pelo menos 37% dos consumidores já autorizaram o compartilhamento de dados para obter melhores condições em cartões, créditos e limites personalizados. Sem o Open Finance, uma parcela grande da população — especialmente a classe D, E, os mais jovens e microempreendedores — continuariam sem acesso a taxas melhores ou aprovações de crédito baseadas em análise de dados mais precisa.

Sem o Open Finance, a tendência seria de juros mais altos, tarifas mais elevadas e menos produtos financeiros à disposição da população – grandes instituições financeiras continuariam ditando preços, sem o estímulo da concorrência adicional, facilitada pelo compartilhamento de dados do Open Finance.

2. Produtos e serviços personalizados – escolha de verdade
O Open Finance oferece ao consumidor a possibilidade de comparar produtos financeiros, cartões, investimentos e financiamentos de maneira transparente e rápida. Sem isso, a escolha ainda seria feita “no escuro” ou baseada exclusivamente na oferta do seu banco de origem ou domicílio bancário.

Pesquisas mostram que inovação, e facilidade de acesso a produtos personalizados também motivam o compartilhamento de dados pelos usuários, como exemplo, entre eles, podemos citar: o acesso a cartões com benefícios e limites maiores, a ajuda para obter um score (ou nota) de crédito incrementado, pois o sistema permite uma análise mais completa do perfil financeiro do usuário e não se baseando apenas em um score tradicional.

Sem o Open Finance, as ofertas baseadas em perfil do cliente, e o acesso a produtos customizados, se restringiriam a uma base menor de clientes, enquanto milhões de consumidores continuariam à margem do sistema, pagando tarifas mais elevadas, pelos mesmos produtos e serviços (isso, caso tivessem acesso a eles). Provavelmente, estes mesmos consumidores também enfrentariam entraves adicionais para obter novas ofertas de crédito e financiamento.

3. Inclusão financeira e digital
A estrutura aberta do Open Finance potencializou novas fintechs, neobancos e bancos digitais, que passaram a competir (por meio de APIs e um ecossistema regulado) por clientes de faixas econômicas menos atendidas. As classes D, E, foram justamente as que mais amadureceram digitalmente nesse processo, revelando a importância do Open Finance e a contribuição de fintechs e bancos digitais para bancarização desta fatia da população, além da oferta de produtos como microcrédito, seguros mais inclusivos e contas com menos tarifas.

Sem o avanço do Open Finance, segundo as estimativas do próprio setor, o Brasil teria mantido parte da população excluída, alimentando ciclos de endividamento por conta de crédito mais caro (entre eles, cheque especial e rotativo do cartão de crédito) e perpetuando o processo de baixa mobilidade entre diferentes instituições financeiras. O acesso a produtos financeiros inovadores, personalizados e digitais seguiria mais restrito, dificultando a vida de milhões de brasileiros que buscam crédito, investimentos, uma conta digital para pagamentos ou simplesmente uma gestão mais inteligente das suas finanças pessoais.

Sem o Open Finance, o mercado financeiro brasileiro provavelmente continuaria com uma estrutura mais concentrada em poucas e grandes instituições financeiras, dificultando a entrada de novos participantes.

4. Ampliação do leque de pagamentos e eficiência
A digitalização impulsionada pelo Open Finance permitiu novos meios de pagamento inovadores, integração ao PIX (sistema de pagamentos instantâneo brasileiro) e maior adoção de aplicativos móveis bancários.

Sem todo o avanço da infraestrutura de Open Finance e a modernização regulatória que o acompanharam, provavelmente o PIX não seria tão forte quanto é hoje, teria sua funcionalidade mais limitada, e a digitalização financeira avançaria de forma mais lenta.

Embora o Pix seja independente e tenha se tornado um grande avanço por si só, a infraestrutura do Open Finance, e as regulações associadas, tornaram o Pix parte de um ecossistema maior, permitindo que ele seja usado em cenários de iniciação de pagamentos via Open Finance, aumentando sua relevância, segurança e acelerando a transformação digital em pagamentos.

Como exemplo, com o Open Finance, é possível realizar pagamentos via Pix diretamente em plataformas de terceiros, como sites de e-commerce, permitindo que o cliente conclua a transação sem precisar sair do ambiente da loja virtual. Dessa forma, a experiência de compra se torna mais simples, rápida e integrada, eliminando etapas intermediárias e proporcionando maior comodidade ao usuário.

5. Segurança, proteção de dados e educação financeira
Mesmo com desafios ainda presentes e de algumas barreiras de adoção, o Open Finance forçou padrões mais rígidos de proteção de dados, promoveu a transparência de consentimento e colocou o usuário no centro das decisões, dando mais controle sobre quais dados pretende compartilhar e com quem.

Em um cenário sem o sistema, riscos de segurança e de vazamento de dados, opacidade da informação e riscos de abusos contratuais estariam mais presentes.

Além disso, o acesso facilitado a informações financeiras, e de forma segura, permitiu ao cliente visualizar, comparar e monitorar mais facilmente seus produtos, hábitos e históricos financeiros, se tornando um mecanismo natural de fomento à educação financeira. Ao empoderar o usuário com informações e controle sobre seus dados, o Open Finance estimulou a busca por conhecimento e uso racional dos serviços financeiros, promovendo mais inclusão e educação sobre finanças pessoais.

6. Competição baixa, taxas altas e menos acesso
Neste cenário, a ausência de compartilhamento padronizado e seguro de dados também restringiria e limitaria o surgimento e a escalada de diversas fintechs, impedindo ou limitando severamente avanços em comparadores e agregadores de serviços financeiros, carteiras digitais conectadas, ferramentas de educação financeira, além do avanço de fintechs especializadas em soluções de pagamentos mais modernas e digitais.

Para estas empresas e fintechs os processos seriam mais burocráticos, onerosos e demorados, e dependentes de acordos bilaterais com instituições financeiras incumbentes.

Sem transparência e interoperabilidade de informações – hoje viabilizada pelos padrões abertos do Open Finance – a comparação de tarifas, taxas de empréstimo, taxas de câmbio, rentabilidades de investimentos e opções de crédito, ficariam restritas a pesquisas manuais ou a processos semiautomatizados, muitas vezes baseados em técnicas como o screen scraping (captura de tela), que além de ineficientes, trazem sérias dúvidas quanto à segurança, proteção e confiabilidade dos dados.

Sem o Open Finance, menos empresas teriam acesso às informações, e o consumidor, por consequência, teria menos visibilidade e controle sobre o seu histórico financeiro, dificultando práticas saudáveis de gestão financeira, potencialmente comprometendo a saúde financeira de consumidores, além de indicadores de níveis de inadimplência.

Com pouca concorrência e menos acesso à informação – e por consequência, grande assimetria – bancos tradicionais teriam menos incentivos para baixar taxas, expandir ofertas, melhorar atendimentos, ou simplesmente digitalizar novos processos. O consumidor estaria limitado a ofertas padronizadas, sem tanta clareza sobre as melhores opções financeiras disponíveis e com acesso restrito a soluções financeiras realmente alinhadas ao seu perfil completo e necessidades.

7. Inovação represada e atraso regulatório
Sem o Open Finance, o país não teria vivenciado a revolução das APIs padronizadas, nem conquistado uma governança compartilhada entre mercado, instituições financeiras e Banco Central, com tamanha robustez. A portabilidade dos dados financeiros seguiria limitada, mantendo o consumidor sem real controle sobre suas informações e diante de entraves para migrar serviços, comparar produtos, acessar crédito de maneira ágil ou buscar melhores condições. As grandes instituições financeiras continuariam concentrando o controle, quase que completo, sobre o histórico financeiro dos clientes, perpetuando experiências pouco flexíveis, dificultando a portabilidade e limitando a inovação a poucos players do mercado.

O ambiente regulatório, por sua vez, poderia apresentar obstáculos aos pequenos inovadores e novos entrantes, limitando significativamente o surgimento de novos produtos e serviços financeiros. Sem uma regulação moderna e padronizada, tal como ocorre com o Open Finance brasileiro, a integração entre instituições seria lenta e ineficiente, comprometendo a segurança, a transparência e a efetividade no compartilhamento de dados e na gestão de consentimentos – dificultando inclusive a plena aplicação da LGPD (ou lei geral de proteção de dados brasileira) no contexto de dados e operações financeiras.

A ausência de uma construção colaborativa descentralizada e de uma estrutura de governança sólida – elementos centrais do sucesso do Open Finance nacional e reconhecidos internacionalmente como referência – colocaria o país em desvantagem, sujeito a restrições para implementar inovações, menor competitividade e afastando-se das melhores práticas em tecnologia financeira e inclusão social.

Além disso, fintechs, bancos digitais e empresas financeiras estrangeiras não encontrariam um ambiente tão propício ao crescimento no Brasil, desestimulando investimentos, a formação de novos talentos e, por consequência, a geração de empregos no setor. O país correria o risco de perder o protagonismo conquistado em serviços financeiros na América Latina e globalmente, ficando à margem da inovação e dos novos modelos de negócios que despontam no cenário internacional.

Conclusão
Cinco anos sem Open Finance significariam um Brasil menos dinâmico, digital e inclusivo, com um setor financeiro mais concentrado, menos inovador e com menos opções de escolha para o cidadão. Taxas seriam mais altas, soluções sob medida raras, oriundas de uma menor competição no setor, enquanto milhões de brasileiros permaneceriam à margem do sistema financeiro.

Felizmente, o cenário atual é de avanço: o Open Finance está presente no dia a dia da população, impulsionando a inclusão financeira, maior transparência e a modernização tecnológica, mostrando que a abertura responsável de dados, e o empoderamento do consumidor, transformam decisivamente e positivamente o setor financeiro do país.

E você, consegue imaginar viver no outro Brasil que ficou, felizmente, só no imaginário?

Vida longa ao Open Finance Brasil!!

No responses yet

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *