A hora e a vez do Open Finance para as PMEs

Open Finance para PMEs
Crédito- Open Finance- Pagamentos- PMEs

O Open Finance no Brasil se tornou um verdadeiro e amplo ecossistema financeiro. Construir esse ecossistema, incluir os diferentes tipos de participantes (bancos, fintechs, cooperativas de crédito, iniciadores de pagamentos, ets), e lidar com as particularidades e complexidades de cada um, além de atender bem à ampla base de clientes (PF e PJ) e casos de uso envolvendo estes últimos, representou um grande desafio para sua implementação, principalmente durante os primeiros anos. Desafios estes que envolveram aspectos técnicos, padrões e interoperabilidade, de segurança, privacidade de dados, qualidade de dados, regulatórios além de forte governança dos processos e do ecossistema.

No Brasil adotamos uma abordagem consistente e unificada para o Open Finance. O Banco Central (a autoridade reguladora) regulamentou, acompanha a evolução e monitora o Open Finance. Enquanto isso, a estrutura de governança do Open Finance, um grupo formado por representantes do mercado, associações representantes do meio bancário, pagamentos, crédito, fintechs, grupos técnicos de trabalho (GTs), entre outros, viabiliza e estabelece um conjunto de padrões, normas e governança unificada, que envolve diversos aspectos, entre eles, técnicos, de segurança, experiência do cliente, comunicação entre participantes, processos de registro e certificação, entre outros, além das responsabilidades que se aplicam à todas as instituições financeiras, e demais participantes do Open Finance no Brasil.

No Brasil avançamos muito bem, o Open Finance atingiu cerca de 28 milhões de consentimentos únicos, ou seja, de “CPFs” em 2023, correspondendo a 15% da população bancária no Brasil, segundo o relatório anual do Open Finance 2023, lançado em 06/07/2024. Para se ter uma ideia, o Open Finance no Reino Unido, um dos primeiros países a operar o sistema no mundo, atingiu 13% da população bancarizada.

O verdadeiro desafio para a adoção do Open Finance

O verdadeiro desafio para a adoção do Open Finance, não é técnico, tampouco regulatório, é de fato ganhar a confiança e a ampla adoção por parte dos clientes finais (seja através de uma finctech, banco, cooperativa, ou outro participante autorizado). As APIs do Open Finance exigem que os clientes compartilhem seus dados e acessem os serviços (seja na forma de compartilhamento de dados ou uma iniciação de pagamento Pix), através de diferentes participantes. Qualquer impacto na performance do sistema, ou mesmo uma experiência negativa do cliente final ao utilizar o Open Finance (por exemplo, caso este não consiga concluir o processo de compartilhamento de dados), naturalmente pode levantar preocupações ou dúvidas quanto à efetividade, ou mesmo sobre a entrega do valor real desses serviços.

Dessa maneira, o processo de educação dos clientes das instituições será fundamental para o sucesso do Open Finance. Muitas vezes estes podem não estar cientes, ou mesmo não possuírem informações suficientes sobre os benefícios e impactos do open finance, nas suas finanças e nos negócios. E aqui não estamos falando apenas do cliente PF (pessoa física), mas peço especial destaque e atenção para as pequenas e médias empresas (ou PMEs), que podem se beneficiar demais do uso do Open Finance.

Os participantes do Open Finance precisam ampliar o acesso à informações, e as ações de educação, além de informar, de forma clara, os clientes sobre as vantagens e benefícios do Open Finance, bem como sobre os respectivos direitos dos consumidores e das empresas. Aliás, excelente a oportunidade aqui para as instituições financeiras (IFs) demostrarem o valor real dos serviços prestados (para além do Open Finance, inclusive), através de experiências simples e intuitivas e capazes de entregar ampla conveniência de serviços financeiros, ao alavancar toda credibilidade e a reputação que a IF tem, para atrair e reter novos clientes.

O principal desafio hoje é sobre o cliente. Fazer com que o Open Finance chegue aos clientes, principalmente as PMEs, com soluções simples e de fácil utilização no dia a dia, e que entreguem benefícios claros e reais para o negócio da empresa, ao simplificar a gestão financeira e do negócio da empresa. Chegou a hora e a vez do Open Finance para as PMEs.

Como o Open Finance pode impactar positivamente as PME?

O Open Finance representa uma enorme oportunidade para pequenas e médias empresas. Utilizando serviços habilitados pelo Open Finance, as PME são capazes de obter maior eficiência e redução de custos através de uma melhor gestão do seu fluxo de caixa e do capital de giro em tempo real, da redução dos atrasos nos pagamentos, do acesso a financiamento com boa relação custo-benefício e da racionalização da gestão do negócio e das operações financeiras diárias da empresa.

Tais capacidades deverão permitir que as PMEs tenham mais instrumentos e capacidades para melhorar o controle do dinheiro, a previsibilidade quanto a entradas e saídas financeiras (seja do contas a pagar, quanto do contas a receber), bem como ter melhores controles e transparência, quanto à performance e o atingimento dos objetivos financeiros do negócio.

“Uma das oportunidades do Open Finance está em como ele pode transformar o dia a dia das pequenas e médias empresas. A conectividade pode acelerar pagamentos, conciliações e integrações com contabilidade, otimizando a gestão financeira. O desafio é garantir que essas empresas compreendam o valor dessa inovação e estejam preparadas para utilizá-la plenamente.” — Rogerio Melfi, especialista em fintechs e inovação no setor financeiro

O Open Finance pode ser uma alternativa para micro, pequenas e médias empresas (PMEs) obterem mais crédito, e de melhor qualidade, uma vez que esta gerará valor e informação qualificada, o que deverá contribuir para uma melhor gestão do negócio.

O caso da Fintech e plataforma digital de serviços financeiros Mercado Pago, ilustra bem o tamanho da oportunidade. 80% da originação de crédito de novos vendedores no Mercado Pago já é resultado de análise de dados compartilhados via Open Finance. A empresa utiliza essas informações para ampliar o acesso ao crédito, oferecer melhores condições em crédito e de serviços mais personalizados para seus clientes. Fonte: Mercado Pago ultrapassa os 2,5 milhões de consentimentos no Open Finance – revistapegn.globo.com (10/10/2023).

Com o consentimento adequado obtido das PMEs, através do Open Finance, bancos, fintechs de crédito e credores podem obter dados completos compartilhados de clientes a partir das suas contas bancárias, e fazer uso de tecnologias como a inteligência artificial (IA) para identificar onde cada empresa tem contas a pagar e a receber (recebíveis), captar as informações bancárias (sejam de contas, cadastrais, transações, empréstimos, etc), e fazer cruzamentos complexos e análises avançadas para compreender, por exemplo, o perfil do cliente, capacidade de endividamento, etc. Através do compartilhamento Open Finance, será possível também criar visões agregadas do negócio e performance financeiras da empresa, além de permitir a emissão unificada de faturas, cobranças e extratos unificados para as PMEs.

Conectar pagamentos instantâneos Pix, diretamente ao PDV e/ou ao ERP das PMEs, usando Iniciação de Pagamento através do ITP, permitirá a entrega de serviços financeiros mais fluidos e personalizados, simplificar e agilizar o recebimento de pagamentos diretamente de seus clientes PMEs, além do potencial de melhorar taxas de conversão de vendas e simplificar a reconciliação de contas, que poderá ocorrer, por exemplo, de forma automática e em tempo real.

O Open Finance também deverá permitir empréstimos mais fluidos e personalizados para as PMEs com base no seu histórico de transações financeiras, acelerar as decisões de empréstimo e financiamentos, e reduzir a burocracia. Ou seja, tem o poder de desbloquear o acesso rápido e inteligente ao financiamento quando as PMEs mais precisam dele. Empresas que, muitas vezes, precisam ser capazes de garantir crédito junto a fornecedores em que possam confiar, e que o acesso a esse tipo de financiamento tem um impacto positivo, e fácil de demonstrar no crescimento das empresas.

O processo de compartilhamento do Open Finance gera toneladas de dados e que podemos utilizar para agregar valor real aos dados. As instituições financeiras têm pois a oportunidade única de preencher algumas lacunas críticas do sistema financeiro, ao utilizar estes dados para reduzir riscos, controlar a inadimplência e aumentar a assertividade dos empréstimos concedidos.

Conectar a conta bancária do PME ao seu software e plataforma de contabilidade, através do Open Finance, também facilitará a vida financeira do pequeno empresário. Esse processo permitirá que os dados sejam extraídos instantaneamente de todas as conta bancárias do PME, e os mesmos sendo automaticamente correlacionados e correspondidos às faturas, pagamentos realizados e compras efetuadas, economizando tempo, melhorando a precisão dos dados, e simplificando a gestão da vida financeira do empresário.

Conclusão

O Open Finance gerará comodidade para as empresas, que poderão ter acesso a novas linhas de crédito e ferramentas mais saudáveis ​​para auxiliar na tomada de decisões e performance financeira das PMEs.

Nesta jornada será fundamental aproveitar todo o poder do Open Finance para facilitar o dia a dia das operações financeiras destas empresas, fornecendo-lhes aplicativos financeiros que lhes permitam reunir toda a vida financeira em um só lugar, além de otimizar a gestão do fluxo de caixa, o capital de giro e o controle efetivo dos recebíveis da empresa.

O Open Finance é um excelente exemplo de como soluções inovadoras, baseadas em tecnologia, podem fazer uma diferença real para as nossas PMEs, porém reforço que não podemos deixar de lado o acesso à informação e à educação financeira.

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