Simplificando o Compartilhamento de Dados PJ

Simplificando o Compartilhamento de Dados PJ
Dados- Open Finance- PJ

Rogerio Melfi Feat Jamile Leão 

Desde o início do Open Finance no Brasil, a integração de Pessoas Jurídicas (PJ) tem sido um desafio. Desde um “simples” desenho de jornada ou na disponibilização de casos de uso, temos visto o mercado nacional se afastar do cliente comercial. E a pergunta baila: POR QUE? Lembremos que uma das fontes de renda do Open Finance está justamente na prestação de serviços premium e, esse público, está mais que aberto a pagar por todos eles! Veja o gráfico que trouxemos no World Payments Report 2025, que aponta o quanto as empresas demandam serviços dessa natureza: 

Vale lembrar que as empresas já possuíam formas robustas de integração de dados, como os tradicionais CNABs e outras conexões diretamente ligadas aos seus ERPs. Essas integrações facilitam processos como a folha de pagamento, controle de contas e fluxo de caixa, garantindo eficiência operacional para as empresas. Abaixo, vamos explorar os principais desafios identificados:

Integrações Antigas Versus Open Finance

Apesar das promessas de modernização e simplificação trazidas pelo Open Finance, as empresas ainda se deparam com obstáculos significativos. A complexidade das múltiplas alçadas nas grandes empresas, onde são necessárias aprovações em diversos níveis hierárquicos, tem tornado o processo de consentimento e compartilhamento de dados mais burocrático e propenso a erros. Além disso, a fragmentação de sistemas e o redirecionamento excessivo entre plataformas financeiras resultam em uma experiência ruim, com falhas de autenticação e perda de dados.

Esse cenário faz com que muitas empresas continuem utilizando os métodos tradicionais que já conhecem, ao invés de adotar as novas interfaces do Open Finance. O desafio, portanto, não é apenas técnico, mas também cultural e operacional, pois as empresas estão acostumadas com as integrações tradicionais que funcionam de forma eficiente em seus ERPs.

Qualidade de Dados, nosso antigo fantasma!

Outro desafio que o Open Finance enfrenta com relação às empresas é a qualidade dos dados disponíveis. Como existem poucos casos de uso voltados para PJ e, consequentemente, pouco compartilhamento de dados entre instituições financeiras para empresas, a qualidade dos dados corporativos é visivelmente inferior em comparação aos dados de pessoas físicas (PF). Isso representa um grande obstáculo, pois a má qualidade dos dados impacta diretamente a capacidade de oferecer soluções mais precisas e personalizadas para as empresas.

Diferente das pessoas físicas, onde o compartilhamento de dados financeiros está mais consolidado e os casos de uso são mais frequentes, no mundo corporativo a fragmentação dos dados e a falta de padronização entre instituições dificultam a criação de ofertas financeiras relevantes e inovadoras. 

Soluções Propostas: Casos além do óbvio

Para que o Open Finance se torne uma solução viável e atrativa para empresas, é fundamental pensar além dos casos de uso óbvios, que até agora têm sido fortemente focados dentro do mercado financeiro. As verdadeiras oportunidades estão no que chamamos de OpenX, em casos de uso que rompam as fronteiras tradicionais da indústria, oferecendo valor para setores como telecomunicações, comércio, logística, tecnologia e serviços, que também demandam soluções financeiras integradas e customizadas.

O Open Finance tem potencial para ir muito além do setor financeiro tradicional, integrando-se de forma mais profunda às cadeias produtivas, por exemplo, facilitando o financiamento de fornecedores, a gestão de estoque e até mesmo soluções de cobrança e antecipação de recebíveis para empresas de diferentes portes. Ao criar soluções específicas para esses setores, serão desbloqueados novos casos de uso, ampliando sua relevância e adoção no mundo empresarial.

No entanto, para que o Open Finance decole no universo das empresas, é essencial criar novos casos de uso que vão além das trocas de dados entre instituições financeiras. A verdadeira inovação virá quando empresas de setores variados puderem ver valor real no compartilhamento de dados através do Open Finance, seja para gestão financeira, crédito automatizado ou otimização de processos internos.

Soluções Propostas: Força-tarefa pela Qualidade PJ

Outra demanda urgente é focar em melhorar a qualidade dos dados PJ, promovendo uma maior troca de informações e incentivando o uso dessas soluções em novos casos de uso.

As melhorias propostas no Guia de UX e as novas soluções para simplificar a jornada de consentimento e automatizar o compartilhamento de dados entre diferentes alçadas têm um impacto direto e positivo nas empresas. Elas poderão gerenciar suas contas de forma mais eficiente, com menos erros e frustrações, o que pode finalmente atrair mais empresas para o ecossistema do Open Finance.

Além disso, melhorar a qualidade dos dados PJ será crucial para que o Open Finance ofereça soluções mais personalizadas e relevantes para as empresas. Somente assim, as instituições financeiras poderão criar ofertas que façam sentido para o dia a dia corporativo, aumentando a adesão e o uso dessas plataformas.

Oportunidades e Desafios no Open Finance Empresarial

Segundo o WPR25, os executivos de tesouraria corporativa apontam que as ineficiências nos processos de contas a pagar e a receber criam uma dor de cabeça significativa no fluxo de caixa. Mais de 80% ainda utilizam processos manuais em papel para reconciliação de contas, resultando em quase 7% das receitas corporativas vinculadas à cadeia de valor. Isto potencialmente se traduz em bilhões de dólares retidos que poderiam ser usados ​​para financiar atividades empresariais. Pagamentos instantâneos e financiamento aberto podem apresentar um novo caminho para essas empresas, oferecendo visibilidade de dinheiro em tempo real.

O Open Finance tem o potencial de transformar a maneira como as empresas operam financeiramente, mas ainda existem muitos obstáculos a serem superados. Integrações antigas, ainda dominam o cenário corporativo, enquanto métodos tradicionais, como TED e Boleto, continuam amplamente utilizados. Para que o Open Finance seja adotado em larga escala pelas empresas, será necessário criar soluções mais inovadoras e ampliar os casos de uso.

Com a melhoria da qualidade dos dados PJ e a criação de novas formas de uso fora do eixo financeiro tradicional, o Open Finance poderá finalmente alcançar seu potencial no universo empresarial, trazendo eficiência, segurança e inovação para empresas de todos os setores.

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