Open Finance Brasil

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24 de abril de 2019, através do comunicado nº 33.455, o Banco Central do Brasil divulgou os requisitos fundamentais para a implementação do Open Banking no Brasil. Sem dúvida, um marco para o avanço do Open Banking no país. Diante desta e de outras notícias recentes, tem crescido o interesse pelo tema, assim como o número de pessoas que têm me procurado na busca por orientações, informações sobre como começar, formas de aplicação do modelo e como acelerar com a jornada de adoção e implementação de Open Banking.

Antes de sair abrindo as APIs e começar a implementar o modelo, vou explicar o porquê a adoção de Open Banking pede uma nova abordagem. Para tal vou organizar meu raciocínio ao redor de 3(três) princípios básicos que no meu entendimento regem os novos modelos de negócios digitais, abertos e baseados em ecossistema, são eles: velocidade, escalabilidade e mindset.

Velocidade

Os sistemas bancários atuais, principalmente nas grandes instituições financeiras dependem de tecnologias criadas há muito tempo, estruturadas para atender modelos de negócios tradicionais, até então bem estabelecidos, com visão notadamente por produto, porém sem visão única e uma experiência unificada do cliente.

Que o setor bancário está em franca transformação, e que está se tornando cada dia mais aberto, isso também é algo notável por todos nós. Diante dos novos cenários, esses mesmos sistemas agora precisam executar novas funções para as quais nunca foram criados, atender novos modelos de segurança, alcançar novos perfis de público em novos canais (por exemplo, através de um ecommerce de uma varejista), etc. Com sistemas mais modernos, leves e flexíveis, quem sabe alavancando todos os benefícios da nuvem, esse problema pode reduzir sensivelmente. Os bancos percebem isso, porém a transição não é simples e o que continuamos a ver na prática são estas mesmas instituições adicionando novas camadas sobre seus antigos sistemas legados.

Quando olhamos para o critério velocidade, a primeira pergunta que surge é: e que tal começarmos expondo uma camada de APIs sobre os sistemas existentes? Esse pode ser um caminho para acelerar a abertura dos sistemas e entrar nesta nova onda de banco aberto, ecossistemas, parcerias com Fintechs. Mas será que esta abordagem é suficiente? Será que adotando ela, estamos de fato mudando a maneira como o banco opera, tornando-se mais aberto e preparado para os novos modelos de negócio, ao mesmo tempo em que oferece a experiência moderna que o cliente precisa? Velocidade e time-to-market são fundamentais nos dias de hoje, mas sem estruturar um modelo de negócio escalável a estratégia terá efeito limitado.

Escalabilidade

Como um banco tradicional construído há décadas pode escalar para suportar novos modelos de negócios da era do Open Banking?

Repensar a infraestrutura, construir estradas, entregar novos fluxos de informação e valor dentro do banco, reinventar os sistemas, tudo isso nos parece fundamental. Considerar o novo como mais uma camada sobre o tradicional, e esperar que este modelo vai escalar para atender bem ao novo cliente do setor, com velocidade de adaptação e custos controlados, pode não ser mais uma verdade. A única certeza é que seu novo competidor ou “disruptor” será leve, tecnológico, irá nascer na nuvem e adotará um modelo de negócio essencialmente digital. Estruturar modelos de negócio digitais e escaláveis será vital.

Temos aí uma oportunidade interessante para criar a própria versão digital do Banco. Uma versão mais leve, independente, quem sabe com o DNA de uma verdadeira fintech. Um banco não mais conectado ao legado, mas sim ao cliente, ao longo de sua jornada, com foco total na experiência do mesmo, em atendê-lo na plenitude e com máxima velocidade e escala. Um banco capaz de escalar sem as “amarras” dos modelos tradicionais.

Novas plataformas bancárias, bancos digitais ou neobanks podem surgir. Um núcleo ou “chassis bancário” super automatizado, leve, em nuvem e principalmente preparado para conexão com todos os tipos de serviços de terceiros (ou fintechs). Quem sabe um banco digital só de APIs, capaz de atender vários e novos modelos de negócio, atuando como uma verdadeira plataforma digital? Capaz de criar seu próprio ecossistema. Internet banking, ATM, aplicativo móvel, no novo banco de APIs tudo isso passa a ser um mero detalhe, pois grande parte da energia agora vai na direção de entregar a melhor experiência ao cliente. Pode ser que esta nova experiência única não seja nem mais entregue pelo seu banco e sim por uma fintech ou parceiro de negócio, conectado ao seu banco.

Esse é o novo banco de APIs, ou o que eu chamo de Banco das Fintechs.

O Banco das Fintechs

Mindset

Já parou para pensar que tal modelo pode ainda representar redução de custos para o banco, ou mesmo acesso facilitado a novos mercados e perfis de clientes? Este novo modelo pode acelerar a transição do “foco em produtos” para o “foco na experiência do cliente”. E para poder acelerar ele precisa de um novo mindset.

Este novo tipo de banco de digital ou neobank poderá ainda focar em um punhado de serviços principais: uma conta digital, pagamentos instantâneos, um cartão de crédito / débito e talvez algo como uma eWallet para várias formas de pagamento e moedas (criptomoedas, quem sabe?), enquanto outros serviços podem ser oferecidos através de terceiros e desta camada de APIs. Pense em seguros, empréstimos pessoais, financiamentos imobiliários e muito, muito mais. Esses terceiros podem ser instituições financeiras, varejistas, fintechs ou até mesmo outros bancos. Este processo representa uma mudança importante de paradigma para os bancos tradicionais.

E para o banco tradicional, como não perder o relacionamento com o consumidor em um cenário como este? E de onde vem o valor para o banco?  A resposta: Dados. Conhecer de fato o seu cliente. Participar da jornada e do relacionamento fim-a-fim com ele. A capacidade de extrair valor dos dados e ser o grande “orquestrador da experiência do cliente” é que vai diferenciar o banco das fintechs. As próprias fintechs para oferecerem um atendimento mais especializado, têm uma grande necessidade de acesso a dados. Ao criar um ecossistema ao redor do banco, com o foco no relacionamento do cliente, eliminaremos o risco de “comoditização” da instituição financeira. Notem a mudança de mindset da competição entre empresas para a colaboração e ecossistema.

O Banco como plataforma

A união do modelo Digital com o Open Banking terá o poder de transformar todo o setor e potencializar este novo modelo de Banco das Fintechs. O banco como verdadeira plataforma e ecossistema de serviços financeiros. Em um mundo dominado por grandes plataformas como WhatsApp, Facebook, Apple, as instituições financeiras devem estar preparadas para o momento em que estas grandes plataformas resolverem escalar de vez com a disponibilização e oferta de serviços financeiros.

Os bancos tradicionais podem sobreviver ou mesmo dominar a era das plataformas e das fintechs, investindo em suas próprias plataformas bancárias digitais. Crie seu próprio banco digital ou neobank, desafie o seu modelo de negócio atual e acelere a transição para novos modelos essencialmente digitais, ágeis e centrados na experiência do cliente.

3 comentários sobre “O Banco das Fintechs

  1. Excelente artigo Davi! De fato, o open banking é uma realidade nos dias atuais e estará bem mais presente no futuro. É incrível notar a velocidade com o qual grandes players estão adotando esse modelo. Vemos cada vez mais gigantes do setor financeiro se adaptarem a esse novo modelo do mercado.

  2. Olá
    Davi
    Excelente artigo.
    Você sabe se já existe algum banco digital nacional que já oferte conta PJ e que tenha o API abeto ?

    Eu sei que o Inter já oferta conta de PJ , Vc sabe qual é o nome do fornecedor da plataforma que roda a conta PJ deles ? Será que tem API aberto ?

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