A era do Open Banking

Banco como Plataforma- Open Banking- Open Finance

A recente publicação da Deloitte Canadá, “The era of Open Banking – impacts on business models” (01/06/2022) traz um panorama bastante atual com relação ao avanço do movimento Open Banking no Canadá, apresenta uma perspectiva bem interessante quanto ao momento em que o mercado se encontra em relação ao tema e, principalmente, como as instituições financeiras devem se portar diante desta nova arena competitiva. Importante destacar que o Open Banking não é mais um movimento restrito ao Canadá ou ao Brasil, mas sim global.

Em março de 2022 o Canadá tomou um passo importante ao avançar em direção ao estabelecimento de seu próprio Sistema Open Banking, em um processo que se iniciou através de um consulta em Janeiro de 2019 e culminou com o Relatório Final do Comitê Consultivo sobre Open Banking em 04 de Agosto de 2021.

Como aponta o relatório, o Canadá deve buscar uma abordagem híbrida, que reflita o seu próprio contexto canadense, e que reconheça os benefícios e o potencial de colaboração entre governo e setor privado. O processo de implementação do Open Banking será faseado, com o lançamento de uma fase inicial de baixo risco, baseada em serviços que utilizam dados somente de leitura (ou seja, os provedores de serviços terceirizados receberão dados financeiros dos consumidores, mas não poderão editar estas informações nos servidores das instituições financeiras), e uma segunda fase que pode expandir o escopo para novas transações que envolvam a gravação de dados, tais como a realização pagamentos, a inclusão de novos tipos de dados, ou mesmo a criação de novas contas bancárias.

Ainda segundo o artigo, o Open Banking deve emergir ao lado de uma série de mudanças adjacentes e complementares, tais como a modernização em meios de pagamentos, as novas soluções de identidade digital (ou digital identities) e o próprio Banking as a Service (ou BaaS). Estas mudanças estão a caminho e devem afetar substancialmente os modelos de negócios das instituições financeiras, colocando em risco modelos tradicionais de aquisição de clientes e de venda cruzada de produtos e serviços, além de acelerar a plataformização do setor de serviços financeiros. Em resposta, as instituições financeiras necessitarão rever as suas estratégias de defesa e ataque para a diferenciação e o estabelecimento de vantagem competitiva neste novo ambiente de negócios.

No Brasil avançamos a passos rápidos com o Open Banking. Em 24 de março de 2022, através da Resolução Conjunta Nº 4, o Conselho Monetário Nacional (CMN) lançou oficialmente o Open Finance no país. O modelo brasileiro passou a configurar-se como uma estratégia mais ampla, contemplando dados sobre outros serviços financeiros como os de credenciamento, câmbio, investimentos, seguros e previdência complementar aberta, além dos dados bancários como contas de depósito, cartões de crédito, empréstimos, financiamentos, e de pagamentos detalhados pela RESOLUÇÃO CONJUNTA Nº 1, DE 4 DE MAIO DE 2020, que instituiu o Open Banking no Brasil.

Uma pesquisa recente da Robert Half, realizada entre outubro de 2021 e março de 2022, observou um crescimento de 38% na demanda por profissionais qualificados para o Open Banking, neste período de um ano. Ainda segundo a Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2022, o Open Finance foi um dos impulsionadores do crescimento dos orçamentos dos bancos para tecnologia em 2021, na medida em que demanda aportes relevantes em Cloud, inteligência artificial e segurança cibernética e esse crescimento deve continuar ou mesmo acelerar, com previsão de ampliação nos investimentos para o ano de 2022.

O Open Banking já contribui para remodelar o setor de serviços financeiros e o novo cenário competitivo, e é de fato um importante catalisador para a transformação deste novo ecossistema financeiro em formação. Outros temas e estratégias, entretanto, ganharam bastante relevância no novo mercado nos últimos anos.

Seria injusto deixar de lado o potencial de transformação que o Blockchain apresenta para Bancos e provedores de serviços de pagamentos, ou mesmo deixar de notar o avanço admirável das fintechs e o crescimento dos novos ecossistemas abertos. O impacto que a digitalização de ativos e a tokenização de valores mobiliários deverá trazer para o mercado de capitais, assim como o avanço notável de estratégias como o Banking as a Service (BaaS) e o Embedded Finance (ou finanças embarcadas) que já oferecem oportunidades de novos negócios e receitas adicionais para instituições financeiras e empresas de outros setores da economia como Varejo, Educação, Telco e Energia.

O Open Insurance, assim como a Automação inteligente, potencializada por dados e inteligência artificial (AI/ML), por si só pode levar o setor de seguros para um novo patamar. E claro, a nova economia verde, pautada por questões sociais, ambientais e de governança (ou ESG do termo em inglês) e que traz para a pauta diversas questões urgentes, entre elas como as instituições financeiras irão mensurar e determinar o impacto dos riscos climáticos em seus negócios e organizações, incluindo os resultados financeiros destas instituições.

Este novo ambiente de negócios deve colocar ainda mais pressão sobre as organizações financeiras para que estas acelerem o passo da transformação, ampliem o relacionamento e a centralidade em seus clientes, e alavanquem fortemente suas estratégias centradas em dados (ou data-driven), para que possam se diferenciar da competição e jogar com muita habilidade o novo “play” de ecossistema.

Referência

Artigo “The era of Open Banking – impacts on business models” (Deloitte, 01 de junho de 2022)

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