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Embedded Finance – Parte III – A Plataforma das Plataformas

Este é a parte III da série – Embedded Finance.

Isaac Newton, famoso cientista inglês que viveu entre os séculos XVII e XVIII, disse certa vez: “If I have seen further, it is by standing on the shoulders of giants.” (Se eu enxerguei mais longe, foi por estar sobre os ombros de gigantes). Esta frase tem um significado interessante. O que na verdade Newton quis dizer com ela é que ele não estava sozinho em suas propostas, tão pouco todas as suas idéias vinham dele, porém a frase reforça que ele confiou nas idéias daqueles que vieram antes dele e as tomou como base para evoluir e avançar com novos modelos e inovações.

Trazendo para a época atual, vivemos em um mundo dominado por grandes empresas, corporações e importantes plataformas digitais. Entre as maiores empresas e mais valiosas do mundo, grande parte delas tiveram seus negócios principais estruturados com base nas próprias plataformas em que se transformaram.

Quando olhamos para o ecossistema de meios de pagamentos, em particular, notamos que o mesmo passa por uma grande revolução. Além do caminho natural destas empresas em tornarem-se plataformas digitais, observamos com particular destaque para corporações que se tornaram verdadeiras “Plataformas das Plataformas”, ou seja plataformas globais de pagamentos que movem e suportam a operação de grandes empresas (muitas delas também consideradas plataformas), tais como: Klarna, Shopify, Airbnb, JPMorgan Chase, entre outras.

Empresas globais tais como Marqeta e Stripe que atuam como plataformas ao permitir que seus clientes (corporativos) finais entreguem serviços de pagamentos inovadores para milhões de consumidores em todo o mundo. Um exemplo interessante é da própria empresa Marqeta que suporta clientes tais como Uber, Facebook e Affirm (esta última provedora de serviços de Buy now, pay later ou BNPL).

Marqeta é uma plataforma moderna de emissão de cartões que faz a ponte entre produtos financeiros inovadores e os processadores de pagamentos responsáveis por processar transações com cartões de crédito, utilizando-se de redes globais tais como Visa e Mastercard. O que tornou a Marqeta um modelo de negócio único e diferenciado foi o fato de ela permitir que seus clientes (empresas) acessem o fluxo de dados de seus usuários finais, das várias partes, dentro do contexto de uma transação de pagamento, assim como viabilizar que seus clientes corporativos controlem o fluxo de fundos financeiros, de seus clientes finais.

Marqeta tem uma característica interessante que permite que qualquer empresa possa se tornar seu próprio emissor (card issuer), sem ter que lidar diretamente com um banco emissor – uma vez que a própria empresa se relaciona e já possui as parcerias estabelecidas com estes bancos. Ou seja, o cliente corporativo não precisa desenvolver a infraestrutura necessária para oferecer soluções de pagamento que sejam compatíveis com estas redes globais (Visa e Mastercard). Além disso, a empresa permite que seus próprios clientes tenham o controle para autorizar ou negar suas próprias transações financeiras.

Como no exemplo da frase de Newton citada no começo do artigo, Marqeta não criou um novo modelo de pagamentos do zero, tão pouco um novo padrão de interoperabilidade, mas sim baseou-se em estruturas globais, modelos (e idéias) bem estabelecidos, adaptou os mesmos, ao mesmo tempo em que habilitou e viabilizou uma série de novas experiências para os consumidores finais. Ao alavancar o poder das conexões, da simplificação e da inovação se tornou uma Plataforma legítima, ou melhor, uma “Plataforma para as Plataformas”.

A evolução dos modelos e ecossistemas de APIs

Milhares de organizações já estão familiarizadas em como as APIs (ou Application Programming Interfaces) favorecem novos modelos de negócio e, além disso, como modelos como Open Banking e Open Finance têm contribuído para o avanço deste debate.

As primeiras APIs nasceram com o objetivo de facilitar a integração entre diferentes Sistemas (centradas na tecnologia), posteriormente passaram a habilitar novos modelos de integração e de interoperabilidade entre diferentes empresas e parceiros de negócio e mais adiante evoluíram como habilitadores para novos produtos digitais.

Com o avanço do debate sobre o modelo Open Banking no mundo e o aumento da maturidade destes novos ecossistemas digitais, percebeu-se claramente que a estratégia Open Banking poderia ser um grande habilitador para novos modelos de negócios. Novos negócios, capazes de trazer novas receitas, o que favoreceu a rápida mudança e o avanço de novos modelos como o Banking as a service (BaaS ou Banco como Serviços).

O avanço do Banking as a Service (BaaS)

O BaaS, de forma resumida, é um modelo no qual instituições financeiras licenciadas, com apoio ou não de uma empresa independente provedora de plataforma (como uma fintech, por exemplo) disponibilizam seus serviços bancários e financeiros, normalmente através da exposição de APIs, para serem consumidos por canais digitais, aplicativos e plataformas de empresas parceiras, como uma fintech, por exemplo, ou mesmo por outras empresas não bancárias. Dessa forma, uma companhia não financeira, como uma varejista, uma empresa de transportes e logística ou mesmo do ramo de viagens, pode oferecer a seus clientes serviços bancários digitais, tais como uma conta digital, cartões pré-pagos, empréstimos, seguros, além de variados serviços de pagamento (PIX, cartões, boletos, etc) e sem precisar adquirir uma licença bancária, como a de Instituição de Pagamento (IP), própria.

O Banking as a service avançou e permitiu que bancos e instituições financeiras alavancassem suas infraestruturas pré-existentes de serviços financeiros e investimentos já realizados, como instrumentos para obtenção de novas fontes de receitas, através de um processo de monetização dos serviços bancários. As visões sistêmicas de APIs (centrada em TI) e como habilitadoras de produtos digitais já não atendiam, ou mesmo suportavam uma estratégia BaaS consistente. Uma nova infraestrutura, ainda mais escalável, segura e robusta deveria garantir estas novas cargas de trabalho, além de atender às demandas dos novos consumidores, e dos novos parceiros de negócio ávidos pela entrega de novas experiências para seus clientes.

A convergência entre modelo de negócio, tecnologia, serviços financeiros e licença bancária trouxe uma série de novos desafios para as instituições que abraçaram o modelo. Diversas empresas, fintechs, instituições de pagamentos, bancos, entre outros, compreenderam os benefícios e lançaram suas próprias plataformas para BaaS. Payments as a Services (PaaS), Banking as a service (BaaS), Fintech as a service (FaaS) várias designações para o novo modelo que avançava, mas que em sua essência permitiu que qualquer empresa (independente do ramo de negócio), pudesse consumir os serviços (e APIs) das Instituição Financeira, muitas vezes intermediadas por Fintechs. Em comum, modelos de negócio que, com frequência, adotam estruturas whitelabel (de fácil customização e personalização) e que permitem rápida incorporação de serviços financeiros em aplicativos e plataformas de empresas terceiras, além de parceiros.

Nasce o Embedded Finance

Como destacado na Parte I da série Embedded Finance – Você conhece o Fenômeno Embedded Finance?:

O Embedded finance consiste em permitir que empresas não-financeiras (uma varejista ou um marketplace, por exemplo) ofereçam produtos e serviços financeiros, através de seus próprios canais, diretamente aos seus clientes finais, no momento exato da interação e mantendo o controle total sobre a experiência destes clientes. Colocando de maneira simples, o Embedded Finance permite que qualquer empresa gerencie e ofereça serviços financeiros inovadores, de maneira simples, transparence e integrada à jornada não financeira do cliente.

OK, mas isso não parece uma definição que se aplica ao modelo BaaS? Sim, a semelhança é clara. Mas destaco os seguintes trechos: “…mantendo o controle total sobre a experiência destes clientes” e o “… integrado à jornada não financeira do cliente”.

Com frequência as soluções Embedded Finance se originam e evoluem à partir de plataformas de Banking as a service (BaaS), porém elas têm características marcantes que as diferenciam das demais estratégias anteriormente apresentadas. Em primeiro lugar, o modelo Embedded Finance reorienta o foco, não mais apenas no cliente em si do serviço (fintech, varejista), mas para o consumidor final e, principalmente, com o foco na experiência que será entregue a este consumidor, de maneira completamente transparente, fluida e integrada em sua jornada diária e não-financeira.

Enquanto o BaaS foca na monetização de serviços, ou geração de receitas através da oferta e consumo de produtos e serviços financeiros, normalmente expostos como APIs, o modelo Embedded Finance alavanca oportunidades adicionais de monetização de dados, compartilhados entre empresas e com autorização dos clientes, insights de negócio baseados nestes dados e geração adicional de novas receitas à partir de novas experiências financeiras, muitas vezes invisíveis para os consumidores e completamente conectadas em suas jornadas diárias (inclusive não financeira).

Como anteriormente mencionado no Post Embedded Finance – Parte II: O Poder da Invisibilidade:

“Os modelos de Plataformas são únicos ao se concentrarem na exploração e monetização do capital intelectual, encapsulado no software, embarcado na plataforma, nos efeitos de rede (network effect) e no capital relacional, ou seja, nas novas conexões estabelecidas entre os diferentes participantes do ecossistema

A estratégia Embedded Finance vai muito além da rentabilização de serviços e produtos financeiros tradicionais, para de fato extrair valor dos efeitos de rede gerados pelos novos modelos de plataformas e ecossistemas digitais abertos.

As instituições financeiras devem aproveitar a estratégia Embedded Finance para estabelecer novos engajamentos e construir laços em torno de suas marcas e manter uma conexão ativa e permanente com seus clientes. Ao considerar esta nova ótica, alguns princípios são fundamentais para o bom avanço do modelo, ao mesmo tempo em que garante a confiança necessária junto aos consumidores, são eles:

  1. Colaboração entre a instituição financeira ou provedor de serviços de Plataforma Embedded Finance e os participantes do ecossistema. Como exemplo, uma varejista, por intermédio de um canal de Marketplace de compras, pode ter esta colaboração e parceria fortemente reforçada;
  2. Conhecimento (e correta identificação) do cliente, que acessa e transaciona pela Plataforma, passa a ser um elemento fundamental para o negócio, inclusive pensando em termos de mitigação de riscos. O uso de identidades digitais passa a ser um elo e facilitador importante neste processo;
  3. Segurança reforçada em cada transação individual. Duas estratégias que irão dar sustentação para este modelo: o uso de uma abordagem de segurança Zero Trust (ou confiança zero), onde cada transação é autenticada e autorizada, além do uso de mecanismos avançados de Tokenização, que garantem maior segurança para transações no contexto do usuário, proteção de dados pessoais, além de transparência e rastreabilidade ao permitir um controle completo de novas experiências digitais, que agora passam para a mão dos consumidores.

E neste processo de transição para o Embedded Finance a adoção e reutilização de boas práticas adotadas em modelos e estratégias Open Banking e Open Finance são fundamentais, entre eles, podemos citar:

Cliente no controle de seus dados: define com que compartilhar os seus dados e quais informações pessiais poderão ser compartilhadas;
Consentimento do Cliente: para o compartilhamento de informações que envolvam transações, dados pessoais, identidades e credenciais individuais, além de autorização explícita para tratar estas informações.

A estratégia Embedded Finance permitirá a entrega de novas experiências financeiras extremamente inovadoras, como por exemplo:

  • Pagamentos sem fricção usando biometria e face, além de verificação de identidade instantânea;
  • Otimização nos processos de Prevenção à Fraudes e transações suspeitas;
  • Uso de contas digitais e cartões virtuais em cenários inovadores não apenas para o B2C (consumidor), mas também B2B, pequenas e médias empresas, por exemplo, ao permitir um melhor controle de pagamentos e despesas corporativas pelos próprios empregados;
  • Integração, interoperabilidade e serviços de valor agregado relacionados a novos modelos inovadores de Marketplaces.

Novos modelos de negócio

A estratégia Embedded Finance tem o poder de habilitar novos Modelos de negócio baseados em plataforma e que atualmente são dominantes em um mundo digital cada vez mais hiper personalizado e hiper conectado com a jornada do consumidor. E são novos modelos que surgem a todo instante: do pagamento sem fricção integrado ao marketplace digital, à negociação de cripto ativos ou NFTs (non-fungible tokens) utilizando técnicas de tokenização, quem sabe até conectar diversas experiências digitais e ações dos seus usuários a seu programa de fidelidades favorito.

Estamos ainda no começo da jornada, mas o grau de compreensão dos benefícios e da plena adoção de uma estratégia Embedded Finance avança rápido. Ela veio para ficar e ao que tudo indica, o momento é propício para acelerar com a estratégia.

1 comentário em “Embedded Finance – Parte III – A Plataforma das Plataformas

  1. Sensacionais esses conjuntos de artigos, escrevi algo bem parecido em um relatório feito para a Zoop, explicando as necessidades dos clientes de uma Fintech que entregasse uma experiência fluida e transparente.

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