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Embedded Finance – Parte II:  O poder da Invisibilidade

A Parte I da série Embedded Finance apresenta o modelo de finanças embarcadas, algumas tendências de indústria como o BNPL (buy now pay later) e o potencial de oferecer experiências ainda mais personalizadas para os consumidores ao combinar serviços financeiros e jornadas não-financeiras como, por exemplo, a compra de um produto em um site de ecommerce. Neste segundo post da série vamos focar nos novos modelos de plataformas, além das características da Plataforma embedded finance e no poder da invisibilidade que conecta instituições financeiras na jornada diária e não-financeira de seus clientes.

O Gartner previu que até 2030, 80% das empresas de serviços financeiros em exercício sairão do negócio por meio da comoditização de serviços e da concorrência ineficaz. Ficar parado neste contexto de transformação, ou melhor, de disrupção no setor, não parece uma opção para as instituições financeiras tradicionais, nem mesmo para os novos nativos digitais.

E neste cenário de transformação é notável que as plataformas digitais dominam um mundo cada vez mais hiperconectado, não só graças à poderosa economia subjacente que são capazes de criar, mas também pelos importantes ecossistemas digitais integrados dos quais fazem parte.

Os modelos de Plataformas são únicos ao se concentrarem na exploração e monetização do capital intelectual, encapsulado no software (embarcado na plataforma), nos efeitos de rede (network effect) e no capital relacional, ou seja, nas novas conexões estabelecidas entre os diferentes participantes do ecossistema. Estas conexões têm custos marginais praticamente nulos, quando comparamos com o capital humano (pessoas) e o capital financeiro, necessários para operar modelos de negócio mais tradicionais baseados somente na oferta de produtos e serviços. Sete das dez empresas mais valiosas do mundo, cinco das oito maiores maiores instituições financeiras e setenta por cento das startups com status de unicórnio são baseadas nesta economia de plataforma.

Mas afinal como o modelo do Embedded Finance funciona?

O modelo Embedded Finance reúne vários elementos da economia de plataformas e permite que as empresas foquem em seus pontos fortes, busquem por novas fontes de receitas e ofereçam serviços financeiros conectados às demandas reais, experiências e jornadas não-financeiras dos consumidores. Ao alavancar novos modelos baseados em plataformas, a combinação final esperada é um resultado muito maior do que a soma de suas partes isoladas e todas os participantes envolvidos podem ser beneficiados.

O modelo Embedded Finance é composto por três elementos principais: a Plataforma digital ou Marketplace, a instituição financeira e a empresa ou componente de infrastrutura de embedded finance.

1. Plataforma Digital

Trata-se de uma empresa que possui uma Plataforma ou marketplace e mantém o relacionamento com o cliente final, normalmente através de um dispositivo móvel, wallet digital ou web site. Pode ser, por exemplo, uma empresa de ecommerce que incorpora a oferta de serviços financeiros durante a jornada de compra de produtos pelos clientes. Ela “incorpora” em sua plataforma os SDKs (Kit de Desenvolvimento de Software) e/ou APIs que permitem habilitar serviços financeiros embarcados tais como como pagamentos, crédito, financiamentos e seguros para seus clientes finais. As plataformas digitais podem oferecer serviços para pessoas físicas, mas também podem servir pequenas e médias empress (PMEs), auxiliando na obtenção de crédito para capital de giro, antecipar recebíveis, ou simplemente reinvestir no crescimento destas empresas.

O modelo de embedded finance integrado a estas plataformas abre um leque de novas fontes alternativas de receitas (ao alavancar serviços financeiros) e torna sua plataforma mais confiável e completa para o seu cliente, melhorando a aquisição, engajamento e retenção de clientes.

2. Empresa de infraestrutura de Embedded Finance

Empresa de tecnologia ou Fintech que cria ferramentas de software completas (APIs e SDKs), além de uma plataforma que processa transações e conecta instituições financeiras e serviços financeiros, tais como Pagamentos e Cartões Virtuais, à plataforma digital ou marketplace. Ela também pode oferecer serviços de valor agregado tais como Cadastro de Clientes, Know your customer (KYC), onboarding digital ágil e simplificado, além de analítico avançado com insights, entre outros serviços.

3. Instituições financeiras

Fornecem capital e acesso às principais redes, serviços e infraestruturas bancárias para a empresa de infraestrutura de embedded finance integrada ou incorporada. As instituições financeiras também podem optar por construir ou disponibilizar sua própria infraestrutura embedded finance que normalmente começa pela disponibilização de uma estrutura de banco como serviço ou Banking-as-a-service (BaaS).

Em última análise, o Embedded Finance permite, por exemplo, construir um negócio de crédito ou financiamento com características econômicas superiores, ao melhorar a experiência dos clientes, coletar dados dos mesmos e conectar instituições financeiras diretamente com a jornada dos consumidores, proporcionando um modelo ganha-ganha para clientes, plataformas e credores.

Modelo de Plataforma Embedded Finance

O poder da Invisibilidade

Pagamentos, empréstimos, seguros, investimentos serão cada vez mais invisíveis, transparentes e conectados com as jornadas diárias dos consumidores. E uma questão que sempre atraiu os consumidores é a conveniência, pois eles querem o que é mais fácil, mais rápido e o que lhes oferecem menor fricção.

Os meios de pagamentos, por exemplo, se tornam cada dia mais onipresentes e a variedade de alternativas pelas quais podemos pagar por bens e serviços digitalmente está avançando rápido dia após dia e se multiplicando. Os pagamentos se tornarão cada vez mais invisíveis, à medida que os cartões e até mesmo os dispositivos começam a desaparecer da transação. Todos conhecemos a sensação de demorar em um processo de checkout online, decidindo se a melhor opção é pagar integralmente, parcelado, com um ou dois cartões e preenchendo manualmente todos os dados do meio de pagamento. Cenários como esse tendem a desaparecer e estarem imersos na jornada diária e não-financeira dos consumidores.

Logo, o processo de pagamento será tão simples como enviar uma mensagem, acionar um comando de voz ou autorizar uma transação usando a Face ou a Iris. Em breve, os pagamentos por reconhecimento de voz e facial serão os predominantes, uma vez que são formas muito mais naturais, transparentes e seguras para as pessoas interagirem e completarem as transações.

Os bancos não precisarão concentrar todos os seus esforços de sua transformação digital em tornar sua marca visível e presente em todos os lugares e serem responsáveis pela distribuição de todos os produtos, como estão habituados a fazer. O verdadeiro poder da iniciativa de transformação digital será quando os bancos entenderem o poder da invisibilidade, dos modelos de ecossistema e de suas marcas. Ao fazer parcerias, aproveitar a confiança do cliente e construir um ecossistema incorporado e centrado em torno do cliente, os bancos podem encontrar maneiras de serem ainda mais relevantes para os clientes finais.

A evolução das carteiras digitais inteligentes (ou smart digital wallets), por exemplo, abre portas para este próximo nível de hiperpersonalização. A inteligência artificial (IA) deverá ser capaz de orientar o usuário, durante a execução de suas tarefas do dia-a-dia, sem que o consumidor tenha que pensar nelas. Como exemplo, tomando decisões de compras automatizadas em nome do cliente, automatizando pagamentos e realocando suas economias financeiras para investimentos mais atraentes, ao considerar informações de mercado e o momento de vida de cada consumidor.

Imagine, por exemplo, um aplicativo que pode lembrá-lo de quanto tempo você precisa aguardar até o dia do pagamento, ou mesmo quanto você precisa acumular verbas para que possa realizar uma grande compra. Uma bolsa, um terno caro ou uma viagem, mas ainda falta uma semana até o dia do pagamento? Compre agora e pague depois ou buy now, pay later. O BNPL pode ser uma alternativa pra engajar ainda mais o consumidor, empoderá-lo e ampliar o consumo.

Como outro exemplo, o banco poderia ser instruído pelo cliente a estabelecer limites para administrar, categorizar e gerenciar os gastos baseados em preferências pessoais deste consumidor. Com base no saldo disponível em conta, na data e nas características da compra e utilizando-se de modelos de pagamentos baseados em Open Finance, o banco pode oferecer formas de pagamento e créditos mais atraentes para o consumidor, aumentando o engajamento e fidelizando.

Transformando Bancos em Plataformas

O momento é propício para trasformar instituições financeiras em plataformas. O Open Finance avança no país e representa um passo importante nesta direção, pois muda a forma como as instituições financeiras tradicionais operam, ao colocar o cliente no centro e no controle de seus dados e favorecer o avanço de modelos baseados em plataformas abertas e centradas em dados.

Enquanto isso o mundo debate o avanço das moedas digitais (ou criptomoedas), stablecoins e novas formas de ativos digitais tais como NFTs (non-fungible tokens), enquanto observamos bancos centrais de todo o mundo discutindo sobre a emissão de CBDCs (ou Central Banks Digital Currencies), as moedas digitais emitidas pelos Bancos Centrais. Reguladores brasileiros estudam e discutem sobre a futura implementação do Real digital, o FED americano debate sobre o dólar digital e até mesmo banco central europeu lançou um projeto para investigação do Euro digital. Moedas e ativos digitais estão ganhando força, assim como novas formas de armazenar valor, investir e pagar.

Mesmo diante de toda a transformação que vive o setor financeiro, os clientes valorizam a confiança nas relações. E na medida em que “Banking” e os serviços financeiros se tornam cada dia mais invisíveis, transparentes e parte da jornada diária dos clientes, temos uma grande oportunidade para que os bancos mantenham um nível de controle e permaneçam conectados nas jornadas destes clientes. Sim, as instituições financeiras podem se adaptar a este novo contexto desafiador e ainda permanecer em uma posição relavante para estes consumidores. O modelo de Plataforma Embedded finance pode ajudar neste processo ao mesmo tempo em que cria condições para que o ecossistema como um todo se beneficie.

Nos próximos posts da série Embedded finance vamos compreender como o Embedded Finance vai se beneficiar do avanço do modelo Open Finance no Brasil, conhecer novos elementos que serão decisivos para o futuro das instituições financeiras e para o embedded finance e como elas poderão se reconectar à jornada de seus clientes através de uma experiência conectada ou Connected Experience.

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